A Importância de Relacionamentos Corretos

Teaching Legacy Letter
*First Published: 2006
*Last Updated: dezembro de 2025
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No mundo(físico/visível), se deseja ter uma sinfonia, duas coisas não podem falhar: tem de ter uma partitura e um maestro. No reino espiritual, se deseja ter sinfonia/harmonia, deve ter as mesmas duas coisas. A partitura é a vontade de Deus; o maestro é o Espírito Santo.
Em Mateus 18:19, lemos: “Se dois de vos concordarem na terra...” A palavra grega para concordar é precisamente a mesma palavra que nos dá a palavra sinfonia. Não é mero acordo intelectual; é harmonia, concórdia/concordância. São duas ou mais pessoas unidas num espírito. Quando as pessoas se reúnem em um espírito, em harmonia, concordando com a vontade de Deus, revelada pelo Espírito Santo, tudo o que necessitam é-lhes acessível. Esta é uma promessa real, mas é preciso cumprir as condições.
Às vezes as pessoas dizem-me: "Irmão Prince, vamos concordar, vamos orar por isso ou aquilo.” Às vezes sinto-me constrangido porque acho que é uma pretensão superficial e que não irá produzir resultados. Concordância não é apenas dizer: “Nós concordamos.” Concordância é estar em harmonia no Espírito um com o outro, e quando chegamos a esse lugar de verdadeira harmonia espiritual, somos irresistíveis. Por causa disso, o diabo fará tudo o que estiver ao seu alcance para impedir que os cristãos cheguem a esse lugar, e ele tem tido grande sucesso com multidões de cristãos professos.
Confio que não vou chocá-lo ao dizer que a igreja, que é o corpo de Cristo, não é uma instituição terrena. De um modo geral, os cristãos têm-se sentido obrigados ou impelidos a produzir algum tipo de organização institucional através da qual podem vincular-se para alcançar a unidade. No entanto, a verdade é que isso não produz o tipo de unidade que Deus pretende para o corpo de Jesus Cristo.
Sob o Antigo Testamento, Deus teve um tremendo problema com o Seu povo, Israel. Ele tinha-se revelado como Aquele que não poderia ser adequadamente representado por qualquer tipo de retrato, figura ou imagem. A tentativa de fazer uma imagem de Deus era estritamente proibida. Mas descobrimos repetidamente que Israel caiu no erro de criar uma imagem ou ídolo e dizer que representava Deus.
Creio que um erro correspondente é cometido pelos cristãos nesta dispensação. O corpo de Jesus Cristo não pode ser representado institucionalmente. Não pode ser representado como uma organização do tipo com o qual estamos familiarizados na vida secular. Mas, repetidas vezes, os cristãos tentam tornar visível e tangível aquilo que é espiritual. Eles tentam criar uma organização, uma união, um vínculo que substitua a unidade e o relacionamento adequados do corpo de Jesus Cristo, e invariavelmente há falha.
Tomemos, por exemplo, o Exército de Salvação (e isso não é crítica ao Exército de Salvação). Dentro do Exército da Salvação, existe uma forte unidade organizacional semelhante à de um exército. E há ainda um vínculo adicional através dos uniformes, para que se possa olhar para os membros e ver imediatamente que ele ou ela está no Exército da Salvação. Tudo o que o homem pode fazer para produzir unidade e estrutura organizacional está lá, entretanto dois membros podem estar em completo desacordo. Portanto, longe de estar em verdadeira união e harmonia, eles podem realmente estar em total oposição. Duas pessoas podem estar no Exército da Salvação, uma pode ser convertida e regenerada e a outra pode ser não-regenerada. Elas nem sequer estão na mesma esfera espiritual!
Mais um exemplo, a igreja anglicana da Grã-Bretanha, na qual fui criado. Pode ser membro da igreja anglicana e ser comunista ou católico romano. Dentro dessa organização, unidas pela estrutura organizacional, existem ideias diametralmente diferentes, totalmente opostas uma à outra, em absoluta desarmonia, sem união alguma na vida espiritual. A estrutura da igreja é um substituto externo/exterior de uma realidade interna/interior.
O grande perigo que vejo é que geralmente aceitamos o exterior/externo como um substituto para o interior/interno e depois negligenciamos o interior/interno. O resultado é que hoje existem multidões de cristãos dentro do corpo que estão num relacionamento errado com outras pessoas e nem sequer sabem de que algo está errado.
Uma noite numa reunião/num culto, cinco pessoas apresentaram-se para a cura. Fui levado a perguntar a cada pessoa individualmente: “Existe alguma falta de perdão ou ressentimento no seu coração contra alguém?” Das cinco, três pessoas disseram: “Sim, existe.”
Respondi: “Bem, realmente querem que avance com uma oração para vós? Posso aparentemente cumprir essa tarefa, mas que tipo de efeito acham que a oração terá?” E sabe o que disseram? "É melhor irmos embora, endireitar as coisas e depois voltar.” Notável! Mas o mais notável foi que essas pessoas não estavam conscientes do relacionamento errado. Por que foram enganadas? Porque tinham permitido que algum substituto externo as cegasse para a realidade interior.
Se fossemos olhar para o estado interno do corpo de Cristo hoje, ficaríamos chocados com o que víssemos!
Juntas e Ligamentos
Se a união/unidade externa não tem nada a ver com o relacionamento espiritual interno dentro do corpo de Cristo, o que é que mantém o corpo unido? Qual é a verdadeira natureza e fonte da nossa unidade? Encontramos a resposta para essa pergunta muito importante em duas passagens de Efésios e Colossenses.
Em Efésios 4:16, Paulo fala sobre Cristo como a Cabeça do corpo: “Do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.” (ACF, Almeida Corrigida Fiel)
Em Colossenses 2:19, num contexto semelhante, Paulo fala sobre Cristo, a Cabeça: “...a partir da qual todo o corpo, sustentado e unido por seus ligamentos e juntas, efetua o crescimento dado por Deus.” (NVI, Nova Versão Internacional)
Paulo diz que há duas coisas que unem os membros do corpo: juntas e ligamentos. Assim como as juntas e os ligamentos do corpo físico mantêm os membros unidos, eles também unem os membros do corpo espiritual de Cristo. Quais são as juntas e os ligamentos? Sugeriria, falando de uma forma prática, que as juntas são os relacionamentos entre os membros do corpo e os ligamentos são as atitudes que prevalecem entre eles.
O braço de uma pessoa tem três ossos. Embora cada um seja forte e saudável, o seu funcionamento efetivo depende de uma articulação, chamada cotovelo. Cada um desses ossos pode ser perfeitamente saudável e, no entanto, o braço pode ser muito ineficaz se a articulação não funcionar adequadamente. Isto também é verdade para o corpo de Cristo. A sua estabilidade individual não é tudo o que é necessário para torná-lo eficaz. O seu relacionamento com os outros é a articulação que o encaixa no corpo e, a menos que o seu relacionamento com as outras pessoas esteja certo, não pode ser um membro eficaz do corpo.
Novamente em Efésios e Colossenses, Paulo fala sobre os grandes ligamentos que unem o corpo inteiro. Em Efésios 4: 3, ele diz: “Procurando guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz.” (ACF) As palavras vínculo e ligamento são as mesmas em grego. E Colossenses 3:14 diz: “...revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição.” (ACF) – o que mantém todo o corpo unido.
O vínculo ou ligamento mais essencial que pode manter o corpo de Cristo unido na verdadeira unidade é o amor, o segundo vínculo é a paz. Todos somos mantidos juntos como um todo pelo que escolho chamar de "atitude de paz e amor". Mas quando essa atitude é inexistente, o funcionamento do corpo é totalmente destruído. Onde mantemos um relacionamento errado com os nossos irmãos cristãos, o corpo não pode funcionar, nem podemos receber o que precisamos para nós mesmos. Não apenas excluímos outros da bênção, mas nós mesmos também seremos excluídos. Mesmo assim a minha experiência, em várias situações e entre tantos grupos, tem sido a de que mais da metade das pessoas em qualquer congregação/assembleia/igreja tem atitudes e relacionamentos errados com outras pessoas e, é bastante comum, que esses relacionamentos errados sejam com outros membros da sua congregação.
Numa ocasião, depois de pregar numa igreja pentecostal onde Deus realmente moveu-se, fui a outra igreja pentecostal e preguei a mesma mensagem, mas nesta segunda igreja nada aconteceu. Pensei: o que há de errado? Sabe o que descobri? Era uma igreja de cerca de quatrocentas pessoas que frequentavam regularmente no domingo, e ainda assim a igreja estava dividida ao meio. As pessoas a minha direita já não falavam com as pessoas a minha esquerda há cinco anos. Quando se aproximavam na rua, atravessavam a rua para evitar falar. Consequentemente, pregar para essas pessoas era um desperdício de tempo e fôlego, uma vez que não havia possibilidade de o Espírito Santo mover- se naquela igreja. Ironicamente, descobri em tantas circunstâncias semelhantes que as pessoas numa congregação assim estão prontas para culpar o seu pastor ou contratar outro evangelista ou fazer qualquer coisa, exceto a única coisa que devem fazer, que é ficarem bem umas com as outras.
Relacionamentos Familiares
É um facto da vida que potencialmente e muitas vezes experimentalmente, os nossos relacionamentos mais perigosos, prejudiciais, venenosos, são com quem somos mais próximos. Um problema de relacionamento particularmente comum é o dos jovens com os seus pais. Atrevo-me a dizer que a maioria dos jovens nos Estados Unidos e em muitos outros países, em certa medida, opõem-se ou rebelam-se contra os seus pais e, em muitos casos, os pais terão de reconhecer uma parte importante da culpa. O problema, portanto, não são somente juvenis negligentes, mas também adultos negligentes.
No entanto, sempre digo aos jovens: se sentes ressentimento, ódio e rebelião no teu coração contra os teus pais, lembra-te de que não são os teus pais que mais sofrerão - és tu. Quem se ressente sofre mais do que quem suscita este ressentimento. Além disso, as Escrituras dizem que o primeiro mandamento com uma promessa é: “Honra a teu pai e a tua mãe ... Para que te vá bem ...” (Efésios 6: 2–3)(ACF) Nunca será bom para ti se não honrares o teu pai e a tua mãe. É contrário à lei divina.
A outra área em que esse problema é mais prevalente é o relacionamento marido - mulher. A quantidade de maridos que se ressentem das suas esposas e de esposas que se ressentem dos seus maridos é incrivelmente grande.
Voltemos à declaração inicial: "Se dois de vós concordarem na Terra...". Quem são as duas pessoas mais óbvias da Terra para concordarem? Marido e mulher. E quantos delas concordam? Não gostaria de responder a isso! Muitas mulheres estão ocupadas nas atividades da igreja apenas porque não concordam com os seus maridos. Elas correm para a igreja, não porque querem servir ao Senhor, mas porque querem escapar dos seus problemas em casa.
Lembro-me de orar uma vez por uma jovem casada por libertação. Depois de ela ter recebido uma libertação maravilhosa, disse: "Oh, irmão Prince, agora acho que vou ser missionária ou, pelo menos, professora de escola dominical!"
Disse-lhe: “Irmã, escute-me um momento. O ministério mais importante é ser a melhor esposa que pode ser para o seu marido e a melhor mãe que pode ser para os seus filhos. Todo o resto é secundário. Convém estabelecer as prioridades certas.”
Muitas irmãs vêm até mim e dizem: “Irmão Prince, eu tenho o batismo no Espírito Santo, mas o meu marido não acredita nele.” Geralmente respondo: “Mostrou ao seu marido qualquer coisa que o faça acreditar nisto? Tornou-se uma esposa melhor como resultado do batismo? A sua casa tornou-se num lugar mais doce? Existe uma atmosfera mais amorosa? Mostra mais cuidado e consideração pelo seu marido do que nunca? Caso contrário, não lhe peça que acredite no batismo, porque ele não acreditará.” Se tudo o que o batismo faz é fazê-la correr para as reuniões, deixando o seu marido a sós, será provável que fique confinada pelo resto da sua vida com um parceiro que não acredita no que acredita.
A última palavra no Antigo Testamento é uma maldição. E sabe a causa da maldição? É explicado nos versículos imediatamente antes desta última frase: “Eis que eu vos enviarei o profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor; E ele converterá o coração dos pais aos filhos, e o coração dos filhos a seus pais; para que eu não venha, e fira a terra com maldição.” (Malaquias 4:5,6)(ACF) O Espírito Santo certamente previu o estado das coisas no fim desta era. E Ele infalivelmente apontou o problema número um nos Estados Unidos e em muitos outros países hoje - o lar! Há lares desfeitos com filhos em rebelião, esposas e maridos que não conseguem concordar, que seguem os seus próprios caminhos e negligenciam os seus filhos.
“E disse o Senhor: Ocultarei eu a Abraão o que faço, visto que Abraão certamente virá a ser uma grande e poderosa nação, e nele serão benditas todas as nações da terra? Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do Senhor, para agir com justiça e juízo; para que o Senhor faça vir sobre Abraão o que acerca dele tem falado.” (Gênesis 18:17-19)(ACF)
O Senhor escolheu Abraão porque sabia que ele iria manter um relacionamento com a sua família de maneira, que ordenaria os seus filhos e a sua casa seguir o caminho do Senhor.
O inverso é igualmente verdadeiro. Qualquer nação em que os maridos e pais falhem em cumprir as suas obrigações para com a família não pode continuar a ser uma nação grande e poderosa. Isso é verdade para os Estados Unidos. Se a vida doméstica não mudar nesta nação, não há esperança para ela.
Mantenho por certo que as pessoas cheias do Espírito com a mensagem do evangelho pleno devem ter uma resposta para esse problema. Se nós não temos uma resposta, então, onde é que o mundo poderá encontrar uma resposta?
É realmente trágico o facto de existirem multidões dos chamados lares "cheios do Espírito" nos quais não há harmonia entre marido e mulher. Se entendo alguma coisa, é que as pessoas que são ungidas pelo Espírito Santo têm uma mensagem para a sua era. Não acredito que precisamos sentar-nos com as mãos postas e dizer: “A situação está fora de controle; não há nada que possa ser feito.” Creio que a solução está na igreja de Jesus Cristo e que a igreja é o sal da terra, a luz do mundo. Mas, “... se o sal for insípido [se não mudar a situação, refinar o mundo ou reprimir as forças da corrupção] . . . , para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.” (Mateus 5:13)(ACF)
É para onde a igreja da América (e dos países do ocidente) está a ir no momento. Mas isso não precisa de acontecer. O remédio é: arrepender-se, ficar bem com Deus e endireitar as coisas na sua casa. Não saia por aí a oferecer ao mundo uma solução para um problema quando ela não funcionar na sua própria casa. Se não tem mais do que miséria e desarmonia para exportar, não exporte!
Como a igreja está tão focada nos confins da terra não consegue ver o que está a acontecer abaixo do nariz. A primeira coisa que precisamos fazer é ficar bem com as pessoas mais próximas de casa. Reconcilie-se. Deite fora a sua amargura, o seu ressentimento, o seu ódio. Comece por aí.
Código: TL-L055-100-POR









