As notícias na imprensa de hoje dedicam mais atenção ao Médio Oriente do que a qualquer outra área da terra. Aqui estão centrados os problemas e conflitos que poderiam— durante a noite— acender a centelha da III Guerra Mundial. O factor principal que contribuiu para este aumento dramático de atenção sobre o Médio Oriente é o surgimento de Israel como um estado judaico soberano.

Incessantemente a sofrer oposição e ser assaltado desde o seu nascimento, este pequeno estado judeu tem constantemente confundido os especialistas e radicalmente mudado o equilíbrio militar e político do Médio Oriente.

Passei cinco anos do meu serviço militar no Médio Oriente— Egipto, Líbia, Sudão e Jerusalém (então chamada Palestina). Isto foi seguido por mais dois anos de residência na Palestina como civil. Durante estes anos testemunhei e participei nos tumultuosos eventos dos quais emergiu a presente situação no Médio Oriente.

Perto do fim do mandato britânico em 1948, recebi notificação de que algumas encomendas estavam a aguardar que as fossem buscar na principal agência de correios em Jerusalém. Uma manhã parti para ir buscá-las e levei duas crianças comigo para ajudar a transportá-las. Quando cheguei ao canto da rua onde ficava a agência, descobrimos que estava sob o fogo de um atirador árabe. Nessa altura a comida já estava a ficar tão escassa em Jerusalém que não nos podíamos dar ao luxo de deixar as encomendas lá. Não havia nada que se pudesse fazer a não ser dar uma corrida, assim como várias pessoas fizeram à nossa frente. Nós corremos até à beira da rua como coelhos para a sua toca e chegámos à porta da agência das encomendas— sem respiração, mas ilesos.

Para lá da porta um polícia britânico da polícia da Palestina estava de serviço. Ele parecia de alguma maneira assustado, pois uma bala do atirador tinha acabado de passar através de um painel de vidro na entrada junto da qual ele estava. Por algum tempo ficámos na agência das encomendas, a recuperar a nossa respiração e a acalmar os nossos nervos. Então o polícia britânico cautelosamente estendeu a mão para abrir a porta e fazer um balanço da situação. Depois de algum tempo, ele acenou-me para junto de si e mostrou-me onde estava localizado o atirador. A cerca de trezentos metros de distância, no extremo oposto da rua por onde tínhamos vindo, uma “casamata” de betão tinha sido construída na rua pelos árabes. Na nossa direção tinha uma estreita fenda horizontal na “casamata” e nessa fenda repousava o cano de uma espingarda. O polícia e eu observámos durante algum tempo como se movia a espingarda de um lado da fenda para o outro, à medida que o atirador procurava um alvo.

Por fim, as formalidades relacionadas com o levantar das encomendas estavam completas. Elas foram-nos entregues, e nós retirámo-nos por uma rota diferente daquela pela qual tínhamos vindo — deslizámos rapidamente pela esquina da agência e tomámos um caminho estreito e íngreme através de um terreno baldio que nos trouxe até uma rua onde estávamos abrigados do atirador. Assim que saímos, ouvi o oficial árabe encarregado da agência das encomendas anunciar que, por causa do atirador, ele ia fechar o seu departamento. O polícia britânico permaneceu passivamente de pé junto à porta. Tanto quanto sei, aquele particular departamento da estação dos correios não voltou a abrir por mais de algumas horas antes do término do mandato britânico.

Evidentemente, qualquer avaliação válida da situação geral no Médio Oriente deve primeiro explorar o papel único que Israel representou e continua a representar. Em seguida há alguns factos relevantes que dizem respeito ao significado bíblico de Jerusalém no que se refere a Israel nos dias de hoje. E, mais especificamente, eu mostro as razões pelas quais nunca deverá ser exigido a Israel o consentimento para um governo dividido de Jerusalém.

Central na História

Jerusalém tem um lugar único na história de Israel, não compartilhado por nenhuma outra nação do mundo. Foi lá que Deus ordenou a David que adquirisse o terreno que foi destinado a ser o local do Templo:

“Então o anjo do Senhor ordenou a Gade que dissesse a Davi para subir e levantar um altar ao Senhor na eira de Ornã, o jebuseu...E Davi deu a Ornã por aquele lugar o peso de seiscentos siclos de ouro. Então Davi edificou ali um altar ao Senhor, e ofereceu nele holocaustos e sacrifícios pacíficos; e invocou o Senhor, o qual lhe respondeu com fogo do céu sobre o altar do holocausto.” (1 Crónicas 21:18,25-26)(ACF, Almeida Corrigida Fiel)

Mais tarde, Salomão construiu o seu templo nesse lugar e Deus disse-lhe: “ ... Os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os dias.” (1 Reis 9:3)(ACF)

É Jerusalém a cidade que Deus declarou ser a cidade que Ele escolheu para Si. Salomão repete as palavras que foram ditas pelo Senhor ao seu pai, David: “Porém escolhi a Jerusalém para que ali estivesse o meu nome ...” (2 Crónicas 6:6)(ACF)

O Senhor reafirma a permanência de Jerusalém novamente em 1 Crónicas 23:25: “Porque disse Davi: O Senhor Deus de Israel deu repouso ao seu povo, e habitará em Jerusalém para sempre.”(ACF). Em 1 Reis 11:36, Deus fala com Jeroboão e diz, a respeito de Reboão (filho de Salomão e herdeiro do trono):

“E a seu filho darei uma tribo, para que Davi, meu servo, sempre tenha uma lâmpada diante de mim em Jerusalém, a cidade que escolhi para pôr ali o meu nome.” (ACF)

O povo judeu é mandado, pelas Escrituras, de fazer peregrinação a Jerusalém três vezes por ano:

“Três vezes no ano todo o homem entre ti aparecerá perante o Senhor teu Deus, no lugar que escolher, na festa dos pães ázimos, e na festa das semanas, e na festa dos tabernáculos; ...” (Deuteronómio 16:16)(ACF)

Em nenhuma outra religião é mandada a peregrinação a Jerusalém.

O nome Jerusalém aparece 778 vezes nas Sagradas Escrituras do povo judeu. Pelo contrário, no livro sagrado do islão, o Corão, Jerusalém não é mencionada nem uma vez.

Historicamente, Jerusalém foi a única capital do povo judeu, quer política quer espiritual. Jerusalém nunca foi a capital de nenhum outro povo ao longo da história. Como cidade, só se tornou politicamente importante para o povo árabe depois da Guerra dos Seis Dias em junho de 1967. Previamente, sob a ocupação da Jordânia, Jerusalém nunca teve o estatuto de capital.

Depois do regresso de Israel do cativeiro da Babilónia, quando as pessoas de outras nações procuraram partilhar na restauração de Israel, Neemias, o governador Judeu, disse-lhes: “O Deus do céu é que nos fará prosperar; e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos: mas vós não tendes parte, nem direito, nem memorial em Jerusalém.” (Neemias 2:20) (ARIB, Almeida Revisada Imprensa Bíblica)

Através dos anos, o povo Judeu adotou das Escrituras, um nome especial para a sua herança em Jerusalém. É Sião.

“Grande é o Senhor e mui digno de ser louvado, na cidade do nosso Deus, no seu monte santo. De bela e alta situação, alegria de toda terra é o monte Sião aos lados do norte, a cidade do grande Rei.“ (Salmo 48:1,2)(ARIB)

É daqui que vem o termo Sionismo.

Restauração de Sião

O profeta Isaías descreve o renascimento do estado de Israel como um acontecimento único:

“Antes que ela estivesse de parto, deu à luz; antes que lhe viessem as dores, nasceu-lhe um filho varão. Quem jamais ouviu tal coisa? quem viu coisas semelhantes? Acaso nascerá a terra num só dia? acaso será uma nação dada à luz de uma só vez? Pois logo que Sião esteve de parto, deu à luz seus filhos.” (Isaías 66:7-8)(SBB, Sociedade Bíblica Britãnica)

O renascimento do Estado de Israel está corretamente apresentado nas Escrituras como um acontecimento único e sem paralelo na história. Num só dia— 15 de maio de 1948—Israel emergiu como uma nação completa com todas as suas funções: exército, marinha, força aérea (um avião), parlamento, força policial, sistemas médicos e educacionais, etc. Eu não conheço nenhuma outra nação na história que tenha tido um renascimento semelhante. É impressionante tentar imaginar as consequências de uma oposição a tal ato soberano de Deus.

O Regresso do Senhor

A restauração de Sião é vista como um prelúdio do regresso do Senhor na Sua Glória: “Quando o Senhor edificar a Sião, aparecerá na sua glória.” (Salmo 102:16) (ACF)

Todas as previsões das Escrituras e todos os desenvolvimentos da história atual, combinam-se para focarmos a nossa atenção num evento iminente de importância única: O regresso do Senhor Jesus em poder e glória. Isto dá especial significado ao drama previsto ter lugar no Monte das Oliveiras:

“E naquele dia estarão os seus pés sobre o monte das Oliveiras, que está defronte de Jerusalém para o oriente; e o monte das Oliveiras será fendido pelo meio, para o oriente e para o ocidente, e haverá um vale muito grande; e metade do monte se apartará para o norte, e a outra metade dele para o sul.” (Zacarias 14:4) (ACF)

Seguir-se-á um período em que Deus irá julgar todas as nações com base na forma como elas trataram a terra e o povo de Israel:

“Pois eis que naqueles dias, e naquele tempo, em que eu restaurar os exilados de Judá e de Jerusalém, congregarei todas as nações, e as farei descer ao vale de Jeosafá; e ali com elas entrarei em juízo, por causa do meu povo, e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre as nações; repartiram a minha terra.” (Joel 3:1-2) (ARIB)

O propósito de Deus é fazer de Jerusalém uma fonte de bênção para todas as nações, e Ele promete julgamento severo sobre todas as nações que se opõem ao Seu propósito para Jerusalém. As Escrituras tornam claro que quando o Senhor voltar, será para uma Jerusalém soberana e judaica. Jesus disse:

“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste! Eis que a vossa casa vai ficar- vos deserta; porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.” (Mateus 23:37-39) (ACF)

Em Mateus 24, Jesus refere-se a “abominação da desolação ” (versículo 15, ACF) de que fala o profeta Daniel. Ele então diz: “Então os que estiverem na Judeia fujam para os montes... Orai para que a vossa fuga não aconteça no inverno nem no sábado; ” (versículos 16,20) (ACF). O aviso contra a fuga no sábado, assume que Jerusalém estará sob as regras dos judeus, que proibirão a operação de quaisquer transportes públicos ou locais de comércio tais como postos de combustível e bancos. Só sob a jurisdição de um governo judeu isto seria um problema.

Aqui fica a minha conclusão em poucas palavras: No eterno conselho de Deus, Ele determinou fazer de Jerusalém a questão decisiva pela qual Ele irá lidar com as nações. Essas nações que se alinham com os propósitos de Deus para Jerusalém receberão a Sua bênção. Mas aquelas que seguirem uma política em oposição aos propósitos de Deus serão tratados severamente. Convido-o a orar para que essa sabedoria divina, discernimento e compreensão possa fazer parte de todos os que ocupam cargos de influência sobre as questões do Médio Oriente.

¹ Este versículo tem uma dupla aplicação, referindo-se tanto à Jerusalém natural quanto à espiritual.

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