Livre Para Adorar II

Derek Prince
*First Published: 1995
*Last Updated: dezembro de 2025
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Nesta carta vou continuar com o tema da minha carta anterior: adoração.
No Salmo 96:8 o salmista estabelece uma condição essencial para que possamos aproximar-nos de Deus: “...trazei oferenda, e entrai nos seus átrios.” (ACF, Almeida Corrigida Fiel). Em Êxodo 23:15 o Senhor afirma, “... e ninguém apareça perante mim de mãos vazias;” (ARIB, Almeida Revisada Imprensa Bíblica)
Existem muitos tipos de ofertas que podemos trazer perante Deus: graças, louvor, dinheiro, posses, atos de serviço, o trabalho das nossas mãos. Mas é na adoração que trazemos a Deus a nossa melhor oferta: nós mesmos. Qualquer atividade religiosa que ficar aquém da oferta de nós próprios a Deus não é verdadeira adoração.
Das várias ofertas mencionadas no Antigo Testamento, aquela que tipifica a oferta de nós mesmos a Deus é a oferta de grão (ver Levítico 2:1–11). Isto contém alguns princípios importantes que nos podem orientar na nossa adoração.
Para a nossa adoração ser aceitável perante Deus, as vidas que Lhe oferecemos têm de ser moídas finamente – completamente submetidas, isto é, a toda a disciplina de Deus. Não podem existir “grânulos” de vontade própria ou desobediência.
Duas coisas acompanhavam a oferta de grão: azeite e incenso. O azeite – a tipificar o Espírito Santo – lembra-nos da nossa dependência do Espírito Santo para tornar a nossa oferta aceitável.
Incenso é uma goma aromática, sem particular interesse em si mesma, mas quando queimada emite uma fragrância distinta. Esta fragrância representa a nossa adoração a subir perante Deus.
Desta oferta, só um punhado de azeite e farinha era queimado no fogo perante o Senhor; tudo o resto era para o sacerdote. No entanto, todo o incenso era exclusivamente para o Senhor. Isto é para nós um aviso de que nenhum ser humano deve receber nem que seja um sopro da adoração do povo de Deus. Líderes que permitem que os seus seguidores lhes ofereçam algo que se assemelhe a adoração ficam sujeitos ao julgamento de Deus. Esta é uma das razões pelas quais nas últimas décadas, muitos ministérios carismáticos terminaram de forma desastrosa.
Nenhuma oferta de grão deve ser acompanhada de fermento ou mel (versículo 11). Em I Coríntios 5:8 Paulo fala acerca dos “ázimos [pão asmo] da sinceridade e verdade.” O fermento representa assim qualquer forma de insinceridade ou falsidade.
Isto é enfatizado ainda mais pela exclusão do mel. O mel é doce nos lábios, mas – ao contrário do incenso – não suporta o fogo. Quando queimado, torna-se preto, pegajoso. Na nossa adoração devemos evitar todo o tipo de exageros ou fraseologia religiosa sem conteúdo. Não ousamos fazer alguma declaração ou compromisso que não resistirão ao teste de fogo.
Finalmente, toda a oferta de grão deve ser temperada com “o sal da aliança” (versículo 13). Deus inicia um relacionamento permanente com o homem apenas baseado numa aliança – isto é, um compromisso mútuo entre Deus e o homem. Deus compromete-se a Si mesmo com o crente, mas em troca o crente deve comprometer-se a si mesmo com Deus. Adoração que não procede de uma aliança de compromisso é “insonsa” e inaceitável.
Acesso A Deus
No Salmo 100:4 o salmista define dois estágios sucessivos na aproximação a Deus: “Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor.” (ACF). Primeiro, com ações de graças, entramos pelas portas. Depois, com louvor, passamos nos Seus átrios. Assim temos acesso direto a Deus. De outra forma, poderemos orar a Deus e Ele irá ouvir-nos, mas estaremos a orar á distância.
Seríamos como os dez leprosos descritos em Lucas 17:12–19. Podemos clamar de longe por Jesus, e Ele vai ouvir-nos e ter misericórdia de nós, mas não podemos chegar perto Dele.
É significativo que o único leproso que chegou perto de Jesus foi aquele que voltou para Lhe agradecer. Jesus disse-lhe, “A tua fé te salvou.” Os dez leprosos foram todos curados, mas só o que deu graças foi também salvo.
No salmo 95:1–7 o salmista leva-nos pelos dos mesmo dois passos de aproximação a Deus: ações de graças e louvor. Mas aqui ele leva-nos um passo mais á frente – a adoração. Os versículos 1 e 2 descrevem um jubiloso e ressonante louvor e ações de graças. Os versículos 3, 4 e 5 dão-nos a razão para o nosso louvor: a magnificência da criação de Deus. Mas no versículo 6 avançamos para a adoração:
“Oh, vinde, adoremos e prostremo-nos;
Mais uma vez vemos que a adoração é expressa com uma postura do nosso corpo – prostrar e ajoelhar.
O versículo 7 revela a razão pela qual devemos adorar: “Porque Ele é o nosso Deus...”. Adoração pertence só e exclusivamente a Deus. Aquele a quem adoramos é o nosso Deus.
Mas a frase que termina o versículo 7 ainda nos leva um passo mais além: “Se hoje ouvirdes a Sua voz.” (ACF). Após o alto e jubiloso louvor dos versículos anteriores, segue-se uma quietude especial, que procede apenas da adoração. Na quietude ouvimos apenas um som: a voz do Senhor. Num cenário assim, Deus pode falar connosco com uma clareza e uma autoridade que não poderíamos ouvir de outra forma.
Quietude é uma parte essencial da verdadeira adoração. Temos de chegar ao ponto em que não temos pedidos de oração, agenda pessoal, ou limite de tempo. O nosso único desejo é estar na presença de Deus. O que se segue tem de proceder da iniciativa de Deus, não da nossa.
Sentado Aos Pés De Jesus
Em Lucas 10:38-42 Maria (irmã de Lázaro e Marta) proporciona-nos um padrão: ela sentou-se aos pés de Jesus e ouviu a Sua Palavra. Marta, por outro lado, estava “distraída em muito serviço.” Ela pediu a Jesus para dizer a Maria para a ajudar, mas Jesus respondeu, “Uma só coisa é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será tirada.”
Quantos servos de Deus temos hoje, dedicados, tal como Marta, “distraídos com muito serviço”? Estão demasiado ocupados para “perderem tempo com Jesus,” simplesmente para ficarem aos Seus pés.
O resultado do tempo que Maria passou aos pés de Jesus é descrito mais tarde, em João 12:3–7. Enquanto todos os outros discípulos estavam sentados á mesa a comer, “Então Maria pegou um frasco de nardo puro, que era um perfume caro, derramou-o sobre os pés de Jesus e os enxugou com os seus cabelos. E a casa encheu-se com a fragrância do perfume.” (versículo 3)(NVI). Isto foi um ato de adoração, que se expressou pela fragrância que encheu a casa.
Os outros discípulos criticaram Maria pela sua extravagância, mas Jesus aprovou o que ela fez, dizendo, “Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto.”(ACF)
Aparentemente Maria era a única discípula que entendia na altura, que Jesus tinha de morrer. Teria ela entendido este segredo quando estava sentada aos Seus pés?
Era uma prática judaica ungir um corpo que estava a ser preparado para o enterro. Em antecipação da morte de Jesus, Maria ungiu o Seu corpo com o unguento mais caro que possuía. Somente ela teve este privilégio. Mais tarde, outras mulheres vieram ao túmulo para ungir o corpo de Jesus (ver Marcos 16:1). Mas chegaram tarde demais! Ele já tinha ressuscitado.
Oh, se o povo de Deus hoje tomasse tempo para se sentar aos pés de Jesus! Certamente seríamos então mais extravagantes na nossa adoração. Talvez também estaríamos abertos para aquele tipo especial de revelação que não vem de outra maneira.
O Padrão Da Adoração No Céu
A visão de Isaías dos serafins dá-nos um vislumbre da adoração realizada no céu (ver Isaías 6:1–8). A palavra serafim está diretamente ligada com a palavra Hebraica para queimar. Os serafins eram criaturas ardentes. Cada um tinha seis asas (enquanto os querubins em Ezequiel 1:6 tinham quatro asas).
A adoração dos serafins teve duas formas: um clamor das suas bocas e uma ação dos seus corpos. Com as suas bocas proclamavam, “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos.” “Santo” é o único adjetivo nas Escrituras aplicado ao Senhor três vezes numa frase.
Os serafins usaram as suas asas de três formas. Com duas cobriram as suas faces; com duas cobriram os seus pés; com duas voaram. O cobrir dos seus pés e da sua cara era um ato de adoração. Voar era um ato de serviço. Usavam quatro asas para adoração, e apenas duas para serviço.
O povo de Deus na terra tem de seguir este padrão. Primeiro, devemos enfatizar duas vezes mais a adoração do que o serviço. Segundo, devemos reconhecer que o serviço eficaz deve proceder da adoração. É nos nossos tempos de adoração que recebemos revelação e direção para o nosso serviço.
Em Apocalipse capítulo 4 somos levados á sala do trono no céu. Neste breve capítulo de 11 versículos a palavra “trono” ocorre 14 vezes. É deste lugar que o universo é governado. A principal ênfase está na adoração.
As criaturas viventes de seis asas aparentemente correspondem aos serafins descritos na visão de Isaías. O seu tema é o mesmo, a palavra santo proclamada três vezes, “Santo, santo, santo.”
No capítulo 5 o foco está no Leão da tribo de Judá, o Cordeiro morto, sentado no centro do trono. A Sua presença é um eterno testemunho de que a vitória vem ao abdicarmos das nossas vidas. Ao redor do trono estendem-se círculos sempre crescentes de adoração que eventualmente incluirão todo o universo.
Primeiro, existem as quatro criaturas viventes e os vinte e quatro anciãos, que se prostram e cantam um cântico novo (versículos 8-10). Depois existem muitos milhões de anjos, que proclamam em alta voz, “Digno é o Cordeiro!” (versículos 11 e 12). Depois todas as outras criaturas no céu, na terra, debaixo da terra e no mar juntam-se num coro de bênçãos Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro (versículos 13-14). O clímax é um “Amén!” final das quatro criaturas viventes e dos vinte e quatro anciãos (versículo 14).
O único digno de ocupar o centro de tal adoração é o Cordeiro que foi morto. Se a nossa adoração na terra é para ser conforme àquela do céu, também terá o mesmo foco: Aquele que está sentado no trono e Jesus o Cordeiro, que está diante d’Ele.
Código: TL-L007-100-POR